sábado, 12 de maio de 2007

Brasileirinha - A construção do maior "Traje Típico Nacional" – AS BAIANAS




"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."
(João – Bíblia Sagrada)

Em Pindorama, (Terra das Palmeiras) , os índios eram os donos da terra.

“Navegar é preciso, viver não é preciso”
(Lema “romantizado” dos navegadores portugueses)

“Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome - o Monte Pascoal e à terra - a Terra da Vera Cruz.”
(Carta de Pero Vaz de Caminha, a certidão de nascimento do Brasil)

“Oh, Tupã deus do Brasil
Que o céu enche de sol
De estrelas, de luar e de esperança
Oh, Tupã tira de mim esta saudade
Ah, Anhangá me fez
sonhar com a terra que perdi.”
(Canto do Pajé – Heitor Villa-Lobos/C. Paula Barros)

“Trazidos da África para a América de Norte a Sul.”
(Gênesis-Caetano Veloso)

“Que noite mais funda calunga
No porão de um navio negreiro
Que viagem mais longa candonga”
(Yayá Massemba-Roberto Mendes e Capinam)

“É num sonho dantesco, tombadilho
Tinir de ferros, estalar do açoite
Legiões de homens negros como a noite
horrendos a dançar
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão
Mas é infâmia demais! ...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares! “
(Trechos do “Navio Negreiro” de Castro Alves)

“O sobrado de mamãe é debaixo d’água
Debaixo d’água por cima da areia
tem ouro, tem prata
tem diamante que nos alumeia”
(Cantiga para Janaína – Domínio Público)

“A redentora Princesa Isabel
Com o seu gesto nobre e varonil
Aboliu a escravidãodo nosso querido Brasil
Lá, Lá, Lá, Lá, Laia.”
(Samba-enredo Imperatriz Leopoldinense 1966)

“Com tanto brasileiro metido a bamba
sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda”
Arrombou a festa - Rita Lee

“O que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-costa, tem!
Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem!
Tem saia engomada, tem!
Sandália enfeitada, tem!
Tem graça como ninguém
Como ela requebra bem!
Quando você se requebrar
Caia por cima de mim
O que é que a baiana tem?
Só vai no Bonfim quem tem
Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Oi, não vai no Bonfim”
(O Que é que a baiana tem? - Dorival Caymmi)

“No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, oi caruru, mungunzá, tem umbu
Pra Ioiô
Se eu pedir você me dá
O seu coração, seu amor
De Iaiá
No coração da baiana também tem
Sedução, canjerê, candomblé, ilusão
Pra você
Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
Quero você baianinha inteirinha pra mim
(Tabuleiro da baiana – Ary Barroso)

“Cadeiras elétricas da baiana
Sentença que o turista cheire
E os sem amor e os sem-teto
E os sem paixão, sem alqueire.”
(Béradêro – Chico César)

Inspirado nas incentivadoras palavras de Martha Vasconcellos e na audição do CD “Brasileirinho” de Maria Bethânia, procurei fazer um retrato da criação do Brasil com excertos de músicas, poesias, poemas, cartas e até mesmo um texto sagrado. Queria situar a relação: Pindorama + Portugal + África = Brasil. Tudo isto está unido num imenso caldeirão sócio-cultural.

A terra primeira, os índios, a colonização portuguesa, os escravos africanos e a criação do “Brasil”, da brasilidade.

Noel Rosa espertamente disse: “...tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia, é brasileiro, já passou de português.”

Os negros africanos trouxeram para o Brasil toda sua matriz cultural, sua música, sua comida, sua indumentária e principalmente sua saudade...

Os negros que vieram da África povoaram em grande parte os Estados da Bahia, Pernambuco, Maranhão e o Rio de Janeiro com extensão para Minas Gerais e São Paulo. Foi principalmente na emblemática Bahia que as negras africanas mais se destacaram. Há inclusive o mito de que as tias “Ciatas” - que disseminavam o samba em suas casas - trouxeram o samba para o Rio de Janeiro. Elas criaram uma maneira de ser negra, de ser baiana. Até hoje elas dão nome a todas as negras que vestem seus trajes tão característicos da nossa cultura. Daí serem todas chamadas genericamente de “BAIANAS”.

A roupa “clássica” das baianas, de influência maometana, compõe-se de torso, bata, pano-da-costa, saia rodada e adornos, como colares, pulseiras, brincos de ouro, prata ou coral.

Estas saias rodadas, estampadas em cores vivas, berrantes, trazem muitas anáguas rendadas, engomadas. Elas usam muitos colares coloridos, os famosos balangandãs ou berenguendéns.

O pano-da-costa se resumia num pano retangular, de um dois metros de altura, por cinqüenta de largura. Pode ser interpretado de duas maneiras: pano-da-costa pelo fato de ter vindo da costa africana, ou por ser jogado sobre os ombros e as costas. Conforme pesquisadores e historiadores eles visavam distinguir o posicionamento feminino nas comunidades africanas e também nas afro-brasileiras. O pano da costa é tradicionalmente branco ou bicolor, podendo ser listrado ou em madras e serem bordados ou com aplicações em rendas.

As batas são blusas de renda folgadas. As baianas ainda vestem chinelas ou calçados baixos, também enfeitados e usam turbantes (torsos), brancos ou coloridos.

Vemos outras baianas, as de origem mulçumana, usando também uma roupa toda branca, imaculada, cujo pano-da-costa pode ser preto.

Ainda trazem um tabuleiro, onde mostram seus produtos à venda, que pode conter vatapá, acarajé, abará, caruru, doces diversos, etc.

Isso tudo foi cantado por muitos compositores brasileiros.

Mas como este traje passou a ser o “Traje Nacional”? Assimilado como algo genuinamente brasileiro, assim como a bandeira e o hino?

Como falei antes, todos os elementos envolvidos na formação étnico-sócio-cultural do Brasil deram sua contribuição para essa criação, e neste momento, entra Portugal, na figura de Carmen Miranda.

Segundo Ruy Castro, nas revistas musicais brasileiras, havia sempre números de “baianas”, vestidas de forma simples e tradicional. Em 1892, sobe ao palco a primeira baiana estilizada da história, que foi a roupa usada pela cantora Pepa Ruiz. Muitas outras cantoras de Cassino usaram estes trajes em diversos espetáculos de teatro e no cinema.

Carmen só se vestiria de baiana em 1938, quando estrela o filme “Banana da Terra”. Ela própria criou sua indumentária, seguindo a música de Caymmi, com saia rodada, sem as anáguas, para que pudesse dançar livremente e muitos, mas muitos balangandãs. Inclusive foi Caymmi quem pediu para Carmen que quando cantasse sua música mostrasse os adereços, inclusive ele próprio assistiu à filmagem e fazia a mímica dos gestos e movimentos que ela devia executar enquanto cantava. Quem tiver a curiosidade de assistir ao filme "Bananas is my Business", de Helena Solberg e David Meyer, verá esta cena cheia de "fantasia, energia e erotismo".

Ela é a criadora-mor desta imagem da “baiana hiper, ultra, super estilizada”, afinal como diz o seu biógrafo mais famoso, Ruy Castro, “era uma roupa para um show - tinha que ser glamourosa - e não para se vender quitutes na esquina.” Foi Carmen quem realmente popularizou em definitivo a vestimenta da baiana estilizada. Aliás essa baiana seria a marca de Carmen Miranda e seu maior sucesso.

É essa baiana que veremos sempre entre nossas misses brasileiras. Desde Martha Rocha, que é da Bahia, o traje típico de baiana impera entre as nossas representantes, nos grandes concursos internacionais. Ora mais simples, ora mais esplendorosos, de todas as cores possíveis e imaginadas, como “num turbilhão de espectros arrastadas”.

Grandes modistas/costureiros/estilistas fizeram trajes de baiana para nossas representantes.

Nota 1: Para esta publicação não ficar tão extensa, as fotos das misses Brasil usando baianas ficarão em postagens separadas por década, com todas as informações necessárias e possíveis.
Nota 2: Agradeço os elogios e a colaboração do Sr. João Botafogo, que escreveu um comentário sobre o filme "Banana da Terra". Ele tem razão absoluta ao dizer que não mais existem as imagens completas desse filme. No filme-documentário de Helena Solberg sobre Carmen Miranda, ela diz: "... dos filmes que Carmen Miranda fez no Brasil, não restam mais que uns poucos minutos." Ruy Castro diz que do filme "Banana da Terra", sobreviveu somente a seqüência em que Carmen canta "O que é que a baiana tem?".
Comentários dessa natureza só vêm enriquecer o nosso conhecimento, pois ratifica-se aquilo que está correto e retifica-se aquilo que está errado, humildemente.
Fontes: Enciclopédia "Tesouro da Juventude" e "Delta Larousse". Biografia de Carmen Miranda por Ruy Castro. Biografia não-autorizada de Carmen Miranda por Martha Gil-Monteiro. Livro “Carmen Miranda foi a Washington” de Ana Rita Mendonça. Revistas “O Cruzeiro”, “Manchete” e “Fatos e Fotos”. Livro “O Negro no Brasil” de Tarso Montenegro. Site Terra Brasileira e Wikipedia.
Filme Documentário de Helena Solberg e David Meyer “Bananas is my Business”.
Fotos: 1 - Reprodução obra de Rugendas 2- Reprodução obra de Debret 3 - Livro "Carmen" de Ruy Castro, capa do jornal "Sunday Mirror" 4 - Museu Virtual de Carmen Miranda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não sou nenhum "expert" em história, mas foste competente ao evocar o "Retrato da Criação do Brsil", desde a sua descoberta, passando por Noel Rosa e chegando ao nosso traje nacional, através da "Pequena Notável", que transformou a baiana no traje tipico, usada por muitas das nossas misses. Lamentável, que hoje, a referida idumentária, não é mais usada com tanta freqüência como nos tempos passados e os concursos de beleza, nos tempos atuais, preferem mais uma fantasia do que um vestuário que denota o costume do seu povo. Parabéns!