Acabei de ler com muito prazer e regalo, o interessantíssimo livro “A Alma da Festa – Família, etnicidade e projetos num clube social da Zona Norte do Rio de Janeiro- O Renascença Clube”, da doutora em Sociologia e mestre em Antropologia Social, Sonia Maria Giacomini, com prefácio do experiente Professor Roberto DaMatta. O livro foi impresso pela editora UFMG. O texto foi inicialmente a tese de doutorado apresentada por Sonia Maria Giacomini em abril de 2004, na IUPERJ, no Rio de Janeiro.
O livro trata da inclusão do negro, ou afro-americanos ou ainda afro-brasileiros, na sociedade carioca, nas décadas de 50, 60 e 70, através de um clube social da zona norte do Rio de Janeiro, o famosíssimo “Renascença Clube”.
Ela discorre sobre o clube e seus sócios, desde sua fundação em 17 de fevereiro de 1951, seu ápice na década de 60, até os dias atuais. O Clube foi fundado no Méier e depois se mudou para o Andaraí, já na década de 60. Fala principalmente da tentativa dos negros, que eram os sócios deste clube - pois todos os sócios eram negros - em distinguir-se socialmente. Desejavam tornar-se “elite”. Queriam sentir-se aceitos por todos e compararem-se aos ideais dos brancos, enfim queriam ter tradição, distinção e privilégio.
Não espere uma História do clube, isso ela deixa muito claro. Ela faz um tratado sobre os três principais projetos do clube, que são: “Flor-de-Lis”, “Samba e Mulata” e “Black is Beautiful”.
No primeiro momento o clube fecha-se num casulo, só deles, são famílias amigas, de classe média, intelectualizadas, que freqüentam o mesmo espaço, para a prática de todo tipo de atividades sociais, culturais e esportivas; neste período encontramos as famosas “tertúlias” e escolha de Rainhas.
Em seguida vemos o clube abrindo suas portas para o Rio de Janeiro, para o Brasil e até para o “exterior”, na figura de sua mulata mais famosa, Vera Lúcia Couto dos Santos, que foi Rainha da Primavera 1962, Miss Renascença Clube 1964, Miss Guanabara 1964, 2º lugar no Miss Brasil 1964 e 3º lugar no Miss Beleza Internacional 1964. Neste momento o Clube se abre para os brancos através das rodas de samba e da criação da “mulata”.
Por fim, no último projeto do Renascença, a figura do homem negro aparece mais que a mulata, a música é o soul, os espaços são abertos, mas somente para os negros, um culto exacerbando a beleza negra. Inclusive nesta época Elis Regina gravou uma música chamada “Black is Beautiful” de Marcos e Paulo Sérgio Valle de 1971, que fala de maneira poética exatamente sobre este período. Um trechinho diz: “eu quero esse homem de cor, um Deus negro do Congo ou daqui, que se integre no meu sangue europeu.”
Bem, como aqui nos interessa mais o capítulo das misses, que é o segundo do livro, com o título “O Clube das Mulatas e do Samba”, Sonia Maria Giacomini nos informa da importância de uma sócia, casada com um diretor do clube, e que tinha especial tino para organizar festividades como os concursos de miss, seu nome é Dinah Duarte. Dinah era proprietária de um gabinete de beleza no Méier. Foi Dinah que abriu os corações e as mentes dos outros sócios no intuito de fazer com que as negras concorressem contra qualquer outra raça, elas poderiam competir de "igual para igual". Sonia diz que Dinah faz do concurso de Miss Renascença algo “considerado realmente importante, impactante e significativo”. Foi ela quem preparou todas as misses para o concurso de Miss Renascença. “As candidatas saíam de dentro do salão da Dinah”, como diz Vera Lúcia Couto dos Santos, citada pela autora.
Sonia Maria Giacomini frisa em seu livro, e que eu achei extremamente peculiar, e creio que pouca gente saiba, é que as mulatas que foram recrutadas para serem misses, não eram sócias do clube, suas famílias não freqüentavam cotidianamente as dependências do clube. Neste momento Sonia é sublime, quando percebe que existe um paradoxo entre a idéia inicial da criação do clube, que só vivia para si mesmo e seus pares, para uma abertura sem igual, se tornando o clube de negros mais famoso do Brasil, através da valorização do corpo feminino e criação da idéia de “mulata” perfeita.
A leitura deste livro é essencial para se compreender como uma mulata do Grajaú, com apenas 19 anos, que nem freqüentava o Clube Renascença, mas foi “a” Miss Renascença, encantou o Rio, o Brasil e o mundo com sua beleza ímpar. Vera foi a mulher negra mais importante deste período e assim abriu muitas portas para todas as lindas mulheres negras do Brasil. Há diversas "falas" de Vera transcritas por Sonia, conta sobre o vestido do costureiro Hugo Rocha, do pivô completo de 360 graus, que só Vera sabia fazer, comenta sobre seu charme, classe, elegância, sua excelente passarela, etc.
Leitura indispensável para qualquer “missólogo” que queira entender este período do Miss Brasil das décadas citadas, bem como da participação dos negros nestes concursos.
Agradeço a Sonia Maria Giacomini por essa agradável leitura, que recomendo a todos. Nota 10.
Ilustra esta "postagem", uma montagem executada por Evandro Silva, das misses do Renascença, que também era carinhosamente chamado de "Rená". Inclui a Miss Cacique de Ramos 1966, a mulata do Di Cavalcanti, Marina Montini, e fotos de Vera Lúcia Couto dos Santos. As fotos são das revistas Manchete, O Cruzeiro e Fatos e Fotos.
O livro trata da inclusão do negro, ou afro-americanos ou ainda afro-brasileiros, na sociedade carioca, nas décadas de 50, 60 e 70, através de um clube social da zona norte do Rio de Janeiro, o famosíssimo “Renascença Clube”.
Ela discorre sobre o clube e seus sócios, desde sua fundação em 17 de fevereiro de 1951, seu ápice na década de 60, até os dias atuais. O Clube foi fundado no Méier e depois se mudou para o Andaraí, já na década de 60. Fala principalmente da tentativa dos negros, que eram os sócios deste clube - pois todos os sócios eram negros - em distinguir-se socialmente. Desejavam tornar-se “elite”. Queriam sentir-se aceitos por todos e compararem-se aos ideais dos brancos, enfim queriam ter tradição, distinção e privilégio.
Não espere uma História do clube, isso ela deixa muito claro. Ela faz um tratado sobre os três principais projetos do clube, que são: “Flor-de-Lis”, “Samba e Mulata” e “Black is Beautiful”.
No primeiro momento o clube fecha-se num casulo, só deles, são famílias amigas, de classe média, intelectualizadas, que freqüentam o mesmo espaço, para a prática de todo tipo de atividades sociais, culturais e esportivas; neste período encontramos as famosas “tertúlias” e escolha de Rainhas.
Em seguida vemos o clube abrindo suas portas para o Rio de Janeiro, para o Brasil e até para o “exterior”, na figura de sua mulata mais famosa, Vera Lúcia Couto dos Santos, que foi Rainha da Primavera 1962, Miss Renascença Clube 1964, Miss Guanabara 1964, 2º lugar no Miss Brasil 1964 e 3º lugar no Miss Beleza Internacional 1964. Neste momento o Clube se abre para os brancos através das rodas de samba e da criação da “mulata”.
Por fim, no último projeto do Renascença, a figura do homem negro aparece mais que a mulata, a música é o soul, os espaços são abertos, mas somente para os negros, um culto exacerbando a beleza negra. Inclusive nesta época Elis Regina gravou uma música chamada “Black is Beautiful” de Marcos e Paulo Sérgio Valle de 1971, que fala de maneira poética exatamente sobre este período. Um trechinho diz: “eu quero esse homem de cor, um Deus negro do Congo ou daqui, que se integre no meu sangue europeu.”
Bem, como aqui nos interessa mais o capítulo das misses, que é o segundo do livro, com o título “O Clube das Mulatas e do Samba”, Sonia Maria Giacomini nos informa da importância de uma sócia, casada com um diretor do clube, e que tinha especial tino para organizar festividades como os concursos de miss, seu nome é Dinah Duarte. Dinah era proprietária de um gabinete de beleza no Méier. Foi Dinah que abriu os corações e as mentes dos outros sócios no intuito de fazer com que as negras concorressem contra qualquer outra raça, elas poderiam competir de "igual para igual". Sonia diz que Dinah faz do concurso de Miss Renascença algo “considerado realmente importante, impactante e significativo”. Foi ela quem preparou todas as misses para o concurso de Miss Renascença. “As candidatas saíam de dentro do salão da Dinah”, como diz Vera Lúcia Couto dos Santos, citada pela autora.
Sonia Maria Giacomini frisa em seu livro, e que eu achei extremamente peculiar, e creio que pouca gente saiba, é que as mulatas que foram recrutadas para serem misses, não eram sócias do clube, suas famílias não freqüentavam cotidianamente as dependências do clube. Neste momento Sonia é sublime, quando percebe que existe um paradoxo entre a idéia inicial da criação do clube, que só vivia para si mesmo e seus pares, para uma abertura sem igual, se tornando o clube de negros mais famoso do Brasil, através da valorização do corpo feminino e criação da idéia de “mulata” perfeita.
A leitura deste livro é essencial para se compreender como uma mulata do Grajaú, com apenas 19 anos, que nem freqüentava o Clube Renascença, mas foi “a” Miss Renascença, encantou o Rio, o Brasil e o mundo com sua beleza ímpar. Vera foi a mulher negra mais importante deste período e assim abriu muitas portas para todas as lindas mulheres negras do Brasil. Há diversas "falas" de Vera transcritas por Sonia, conta sobre o vestido do costureiro Hugo Rocha, do pivô completo de 360 graus, que só Vera sabia fazer, comenta sobre seu charme, classe, elegância, sua excelente passarela, etc.
Leitura indispensável para qualquer “missólogo” que queira entender este período do Miss Brasil das décadas citadas, bem como da participação dos negros nestes concursos.
Agradeço a Sonia Maria Giacomini por essa agradável leitura, que recomendo a todos. Nota 10.
Ilustra esta "postagem", uma montagem executada por Evandro Silva, das misses do Renascença, que também era carinhosamente chamado de "Rená". Inclui a Miss Cacique de Ramos 1966, a mulata do Di Cavalcanti, Marina Montini, e fotos de Vera Lúcia Couto dos Santos. As fotos são das revistas Manchete, O Cruzeiro e Fatos e Fotos.
O livro de Sonia Maria Giacomini pode ser adquirido pelo site da UFMG e custa R$ 47,00(quarenta e sete reais), já incluída a postagem. Chegou em um dia, muito bem embalado, pelos menos assim aconteceu comigo, que moro em Fortaleza, embora eles atentem para que o envio é de até 5 dias. O site é www.editoraufmg.com.br.
Um comentário:
Na seg. foto, está uma indiana escrita!Bons tempos de MR!Aizita Nascimento,comemorada durante toda as décadas 60 e 70!Vera Lúcia Couto...!Marina Montini, que foi modelo e casou na Itália.Japão
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