quinta-feira, 3 de maio de 2007

"Errar é Humano"




Se até para nós, os "missólogos", é difícil, muitas vezes, fazer uma lista, por exemplo, de misses de um Estado brasileiro, imagine para a imprensa. A partir do momento em que existem diversos concursos nacionais, e eles realmente são muitos , mas muitos mesmo, uns se dizem oficiais, outros tentam ser mais importantes do que os outros, e nesta luta todos se perdem quando vão informar alguma coisa.

A Imprensa que não é nem de longe "missóloga", comete muitos erros. Confundem principalmente os concursos de Miss Universo com o de Miss Mundo, e muitas vezes nem falam do Miss Internacional, e por aí vai... Vamos tentar entender porque isso acontece.

Quando os concursos eram promovidos pelos Diários e Emissoras Associados, eles, desde 1954, escolhiam uma Miss Brasil, que a princípio era somente para o Miss Universo. Em 1958, escolhem a primeira candidata para o Miss Mundo, que era a segunda colocada nesse certame. Para compreender melhor: Adalgisa Colombo, do Distrito Federal, que era a cidade do Rio de Janeiro à época, ganhou o concurso intitulado "Miss Brasil", em 1958, e foi a representante brasileira no Miss Universo. A pernambucana Sônia Campos foi a segunda colocada nesse certame e foi a representante brasileira no concurso de Miss Mundo.
O concurso Miss Universo é sediado nos Estados Unidos da América, enquanto que o Miss Mundo tem sua sede na Inglaterra. Como o Brasil, a partir de meados do Século XX, tende a ser muito mais "americanizado" que "europeizado", sempre se deu uma importância maior ao Miss Universo do que ao Miss Mundo. Durante grande parte das décadas de 60 e 70, o Miss Beleza Internacional passou a ter até mais importância que o Miss Mundo, pois a segunda colocada, como por exemplo em 64, 74, 76 e 79, representaram o Brasil no Miss Beleza Internacional.

A partir de 1960 quando o Miss Beleza Internacional é criado em Long Beach, Califórnia (EUA), a nomenclatura utilizada pelos próprios organizadores do Miss Brasil e pela imprensa era: Miss Brasil, Miss Brasil Número 2 e Miss Brasil Número 3.

Quando, em 1980, os Diários não mais fazem o concurso de Miss Brasil, o apresentador Sílvio Santos faz somente um concurso de Miss Brasil para o Miss Universo. Em 1983, ele passa a fazer dois certames: um intitulado de Miss Brasil, - dando assim continuidade a linhagem iniciada por Martha Rocha em 54 - cuja representante era para o Miss Universo e outro de Miss Brasil Mundo. Enquanto isso, o Ilha Porchat Clube, de São Vicente (SP), passou a fazer um concurso também e enviava suas representantes para o Miss Beleza Internacional, já no Japão.

É realmente muito confuso, precisaríamos chegar a um denominador comum, principalmente nos dias de hoje, onde há um concurso que elege uma miss para o Miss Universo e se intitula Miss Brasil Oficial, com promoção da "Gaeta", já que vem na mesma linhagem antes falada de Martha Rocha; e um outro concurso com sede no Paraná, promovido pelo Organização Miss Brasil Mundo para a escolha da representante brasileira para o Miss Mundo, intitulado Miss Brasil Mundo.

Você está ficando confuso? Isso é pouco, e tome polca! Para enlouquecer mais ainda, há um concurso que quase sempre é realizado em Brasília com promoção do Sr. Danilo Dávila que diz ser Miss Brasil Oficial também. Inclusive quando foi escolhida a Miss Brasil 2000, que de certa forma seria um ícone, principalmente pela música de Rita Lee, esta organização do Sr. Danilo Dávila se antecipa ao da "Gaeta", que fez seu concurso quase um mês depois. A Imprensa acabou dando muito mais espaço a Miss Brasil eleita pelo Danilo, que foi a mineira Daniela Moraes, pois ela saiu em todas as revistas como a "verdadeira" Miss Brasil, vide reportagens das revistas Época, Veja, etc. Mas afinal ela não seria uma Miss Brasil? Cansou? Tem mais...

Outra organização surge no Brasil com o nome de Beleza Brasil, que a princípio envia uma candidata para o Miss Intercontinental e depois para um outro concurso criado nas Filipinas, em 2001, chamado de Miss Terra.

E aí, que conclusões podemos tirar disso tudo? Afinal, quem é a verdadeira Miss Brasil?

Minha opinião pessoal é de que, nos dias de hoje, temos que acoplar o nome de Miss Brasil ao concurso que a representante vai concorrer em outros países, ou seja, denominaríamos então: a Miss Brasil Globo, a Miss Brasil Internacional, a Miss Brasil Mundo, a Miss Brasil Terra e a Miss Brasil Universo, e tantas Misses Brasil quanto aparecessem, sem grau nenhum de importância. A importância pode ser avaliada por cada um, individualmente, através das linhagens, pela tradição, pelo gosto pessoal, pela amizade com os promotores dos concursos, etc. Por conseguinte, nos Estados teríamos, por exemplo: a Miss Acre Globo, a Miss Acre Internacional, a Miss Acre Mundo, a Miss Acre Terra e a Miss Acre Universo.

Todos os concursos assim teriam o seu espaço, nenhum seria oficial, ou mais importante que o outro. E quem sabe assim a imprensa talvez se situasse melhor?

Um exemplo clássico foi a controvérsia envolvendo os concursos de Miss Mundo e Miss Universo na Venezuela. Martina Thorogood que foi eleita "a" Miss Venezuela 1999, iria concorrer ao Miss Universo 2000. Entretanto, foi, por fim, enviada para o Miss Mundo 1999, devido ao fato de Eric Morley, então Presidente desta organização, exigir que a primeira colocada no Miss Venezuela, o mais importante concurso nacional da época, fosse para o seu certame. A organização do Miss Universo também não aceita esta imposição e diz que não quer a segunda colocada. Então o Presidente do Miss Venezuela (Osmel Souza) faz um outro concurso em 2000 somente para o Miss Universo, ganhando Claudia Moreno, que se classifica em segundo lugar, perdendo para a indiana Lara Dutta.

Por falar em Índia, hoje em dia, a primeira colocada no certame vai para o Miss Mundo e não mais para o Miss Universo. Quando, em 1994, Sushmita Sen foi escolhida a Miss Índia, ela foi para o Miss Universo e Aishwarya Rai, a segunda colocada, foi para o Miss Mundo, embora as duas acabassem ganhando os certames que foram representar.

Para ilustrar mais ainda, em 1990 não houve o Miss Brasil feito por Sílvio Santos, mas sim, o Miss Brasil para o Miss Mundo, e mesmo assim ninguém coloca em suas listas a paranaense Karla Cristina Kwiatkowsky como Miss Brasil. Digno de nota é o fato de que a Miss Ceará e Miss Brasil 1989, Flávia Cavalcante Rebêlo, usa uma faixa onde se lê "Miss Brasil 1989 e 1990".

Deise Nunes de Souza é considerada a primeira Miss Brasil negra da História, isso em 1986. Méritos ela tem de sobra, não estou questionando isso, mas, porque esquecer de Vera Lúcia Couto dos Santos que ficou em segundo lugar no Miss Brasil 1964 e foi a representante brasileira no Miss Beleza Internacional? Vera foi Miss Brasil Internacional e era negra, como foi eleita em 1964 e Deise em 1986, então Vera poderia ser considerada a primeira Miss Brasil negra.

Este texto é só uma reflexão pessoal, não tenho a mínima intenção de criar regra nenhuma.

Para ilustrar este tópico, apresento três notinhas a respeito do Miss Mundo 2001, das revistas Cláudia, Tudo (que não existe mais) e Raça, em todas as três notas podemos detectar erros. Notem que, mesmo com a faixa escrito "Miss World" eles dizem Miss Universo. Na primeira nota aparece "é a primeira vez que uma negra ganha o título". O certo seria: é a primeira vez que uma negra africana ganha o título, já que, em 1970, Jennifer Hosten, uma negra de Granada, país do Caribe, ganhou o tão cobiçado título.
Com a colaboração do Professor Heitor Miranda.

Um comentário:

Misses na Passarela disse...

Arrasou! Digno de ser publicado na Veja. Se me autorizar posso postá-lo no MbonB, pois seria muito bom para esta nova geração de admiradores das misses. É muito complicado elucidar qual a "Miss Brasil Oficial", numa variedade tão grande de concursos com o mesmo título. Sua conclusão está perfeita e acabada. Abraços